quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Capitans Diary, Final log entry

Ganhamos!!!!!
Começa a luta pela maternidade responsável da mulher.
Pelos direitos sexuais e reprodutivos!
Pela saúde pública!




Obrigado por terem vindo!

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Força pelo SIM e pelas MULHERES!

Estamos na recta final da campanha e nada, como sabem, está garantido!
Temos ainda de esperar que os/as eleitores/as dos centros urbanos e os jovens se desloquem às urnas para que Portugal saia do séc. XVIII.

Vamos a isto! Falemos com todos e todas para mudar a lei que discrimina as mulheres, que as abandona e que as CRIMINALIZA!
Vamos a isto! Façamos com que os abortos sejam legais, seguros e RAROS!
Vamos a isto! Forcemos um recuo ainda maior no não (depois da vergonha da tese do: "fazes abortos clandestinos, sem segurança e se te deres como criminosa nós só te mandamos fazer trabalho comunitário" {estilo: "o trabalho liberta!!!!!"}).


Vamos a isto! Votemos SIM!!!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Conversa e Concertos pelo SIM! Um sucesso!




Como sabem Sábado (03/02) aconteceu no bar linha verde (Casal da Areia - Alcobaça) uma sessão de esclarecimento com os movimentos Médicos Pela Escolha, Jovens Pelo SIM e SIM Alcobaça sobre o referendo de dia 11/02. Esta iniciativa teve a presença de mais de 60 pessoas e o debate surpreendeu pela positiva, visto que os diversos argumentos que foram apresentados permitiram um debate profundo que ajudou a elucidar alguns e algumas indecisos e indecisas. Algumas intervenções mereceram mesmo palmas da assistência.

Os concertos que se seguíram foram também muito aplaudidos. Diana e Pedro (www.myspace.com/sethmaldito) fizeram furor com as suas músicas "pós-politicamente-correcto" e os Mezcal ( www.myspace.com/mezcalband) deixaram o auditório a dançar rock n' roll.

Foi nesse mesmo dia que o Não organizou também uma sessão de esclarecimento na Biblioteca Municipal de Alcobaça que não contou com mais de 10 presentes. Referimos esta acção, pois consideramos que temos de aprender com os erros dos outros movimentos. O Não organizou uma acção num local onde as pessoas não estão e, como se tornou óbvio, não vão, não tentando abrir o seu argumentário às dúvidas das populações e não conseguindo construir um caminho com os presentes. Na sala da biblioteca o painel de convidados fez intermináveis discursos, optando por um estilo próximo da palestra, que encaixa perfeitamente no perfil de quem apenas tem certezas infundadas e não debatidas.

Pelo contrário o SIM Alcobaça apostou em estar onde as pessoas estão, distribuiu panfletos em locais públicos desafiando todos e todas a participar e organizou a sessão de maneira a permitir o máximo de discussão e de partilha de ideias. O pluralismo e a democracia assentam nisto mesmo: no debate franco e aberto, olhos nos olhos.

Durante a próxima semana vamos continuar a estar na rua com panfletos e informação para podermos informar sobre o que está em causa no referendo de dia 11/02.

Força para a recta final

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

É já este Sábado


É já este Sábado (03/02) que vamos fazer o nosso debate e os concertos.
Aparece às 22h no Bar LINHA VERDE!

Vão estar presentes a Teresa Martins (Médicos Pela Escolha), O Pedro Rodrigues (Jovens Pelo SIM) e a Inês Vinagre (SIM Alcobaça).
Vem discutir e dar a tua opinião.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Mais actividades! Vem

22/02 - Distribuição de autocolantes Jovens Pelo SIM no Cine teatro (21h);

23/02 - Reunião com o André (criativo) para fechar o nosso panflo/cartaz às 21h30 no tertúlia;

25/02 - 21h30 Distribuição dos panfletos Jovens pelo SIM no concerto de Brad Mehldau (cine Teatro);

27/02 - 22h encontro no Capador para a distribuição dos nossos folhetos do nosso evento;

29/02 - 07h30 distribuição dos panflos jovens pelo sim no mercado e praça;

01/02 - Lançamento do nosso manifesto e divulgação dos concertos nas rádios e jornais locais;

02/02 - Distribuição em alcobaça dos nossos panfletos;

03/02 - 22h no linha verde debate+concertos sobre IVG;

semana de 05 a 09/02 distribuições em toda a região.

RICARDO ARAÚJO PEREIRA PELO SIM

= RICARDO ARAÚJO PEREIRA PELO SIM =



Apresentação do flyer dos Jovens Pelo SIM



3ª feira – 23 Janeiro – 15h

Espaço Jovens Pelo SIM – Largo da Trindade 17 [Chiado] – Lisboa



Lançamento oficial do flyer do movimento Jovens Pelo SIM apresentado por Ricardo Araújo Pereira, na sede do Movimento, 3ª feira às 15h.

Aparece! Vamos encher a sala!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Lançamento da SIM ALCOBAÇA! 20/01/07

A Plataforma Sim Alcobaça lança o seu manifesto e os seus materiais dia 20/01/07 na escola Adães Bermudes às 15h.
Vamos discutir quem somos e o que queremos todas e todos juntas/os para acabar com a hipocrisia, com a humilhação e pela saúde e direitos humanos!

Aparece e traz uma/um amiga/o Também!

domingo, 14 de janeiro de 2007

É amanhã!!! Não esquecer...

* 15/01/07


21h Café tertúlia Reunião para discussão da versão beta do panflo, cartaz e texto para comunicação social;

sábado, 13 de janeiro de 2007

Pro choice


• O NÃO tem respondido à questão da prisão com dois argumentos principais:
1 - As mulheres que foram julgadas não estão presas.
2 - Se o aborto for despenalizado as mulheres que foram julgadas seriam na mesma, porque fizeram abortos depois das 10 semanas.

Algumas respostas:

1 - As mulheres que foram julgadas não foram presas, mas passaram pela humilhação e pelo trauma de responder em tribunal.

2 - As mulheres que foram julgadas não estão presas, mas podiam estar. É o que lei Portuguesa diz é que quem faz aborto pode apanhar até 3 anos de prisão, se a lei for cumprida é o que acontecerá, se a lei não for cumprida não faz sentido existir.

3 – Das mulheres que foram julgadas algumas já estava no local onde iam fazer o aborto, quando a policia judiciaria interveio e foram obrigadas a ter os filhos.

4 – Se o aborto fosse despenalizado, provavelmente as mulheres que fizeram o aborto depois as 10 semanas teriam tido condições mentais, materiais e psicológicas para o fazer mais cedo. Até porque quando mais tarde se fizer maiores são os riscos para a mulher.

5 – As mulheres que foram julgadas se tivessem noutras circunstâncias económicas, provavelmente teriam ido a Espanha onde é legal, que é o que faz quem pode.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Actividades propostas! O que dizes?

Estamos a organizar em Alcobaça uma plataforma de organização de iniciativas para a sensibilização para o SIM no referendo do próximo dia 11 de Fevereiro! Claro que os arredores também estão incluídos... aqui será apenas o ponto de encontro para todos, por enquanto, embora possamos discutir a possibilidade de se implementarem algumas dinâmicas noutros sítios (Nazaré, Marinha Grande, Leiria, Caldas da Rainha...)

Para já temos um cronograma de actividades em que podes participar.


* 15/01/07 - 21h Café tertúlia Reunião para discussão da versão beta do panflo, cartaz e texto para comunicação social;

* 20/01/07 - 15h Reunião de lançamento dos "jovens pelo sim Alcobaça" (ou outro nome qualquer), marcar distribuições e actividades (ainda não há local marcado);

* 27/01/07 - debate com visionamento do Filme Vera Drake (ainda sem local e horário definido);

* 29/01/07 a 04/02/07 - distribuições e colagens para dia 03/02/07;

* 03/02/07 (Sábado) -Sessão de esclarecimento SIM ( Jovens pelo sim com Médicos pela Escolha) + Concerto num bar aqui perto (músicos e locais...? aceitam-se voluntários!!!);

* 05/02/07 a 09/02/07 - distribuições e colagens em locais chave a definir (cine teatro, mercado, etc.)

Assembleia de Movs pelo SIM

ASSEMBLEIA DE MOVIMENTOS PELO SIM

14 Janeiro - Domingo - 15h
Aveiro - Centro Cultural de Congressos


A primeira grande acção da campanha pelo Sim requer MOBILIZAÇÃO GERAL .

Convidamos tod@s @s interessad@s a participar na Assembleia de Movimentos pelo SIM, dia 14 de Janeiro, Domingo, em Aveiro.

Será uma iniciativa com intervenções de todos os movimentos. Será lido um apelo ao voto no dia 11 de Fevereiro, subscrito por todos os movimentos.


Haverá autocarros directos, organizados pelos movimentos, a preços económicos:
- LISBOA: Partida 12h - Alameda Afonso Henriques (lado Fonte Luminosa). Regresso 18:30h.
- PORTO: Partida 13:30h - Igreja de Cedofeita. Regresso às 18:30h.
- COIMBRA: Partida 13:45h - Praça da República.
Haverá ainda autocarros a sair de BRAGA e do distrito de SETÚBAL.

Para mais informações e inscrição:
votosim@gmail.com
T: 969 891 047


Convocada por:
Cidadania e Responsabilidade pelo Sim
Em Movimento pelo Sim
Jovens pelo Sim
Médicos pela Escolha
Movimento VOTO SIM

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Há Padres pró IVG

Intervenção numa conferência-debate sobre a lei de despenalização do aborto na Faculdade de Direito de Lisboa, e vinda a Portugal de Frances Kissling e Norma Corvey

Padre Mário de Oliveira

Fui de propósito a Lisboa participar numa conferência-debate sobre a lei de despenalização do aborto que vai a referendo no dia 11 de Fevereiro de 2007. O convite veio de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa, na Cidade Universitária. A sessão, invulgarmente concorrida, decorreu na tarde do dia 5, num dos seus anfiteatros, e prolongou-se por quase 4 horas ininterruptas! Nunca antes eu havia entrado naquela Faculdade. Foi por isso com alguma emoção que cruzei as suas portas e me vi no meio de tantos jovens, elas e eles. Na mesa, havia três defensores do “não”, dois professores da própria Faculdade de Direito e uma senhora que integra um daqueles grupos auto-designados de “defesa da vida” que se agitam muito, sempre que a despenalização do aborto aparece como uma possibilidade na sociedade portuguesa. Não podem ouvir falar em semelhante possibilidade. E batem-se contra ela e pela manutenção do status quo. Do lado do “sim”, éramos apenas dois. O meu companheiro é também professor naquela Faculdade de Direito. De todos os convidados que aceitaram participar no debate, só eu é que fui de longe, aqui de Macieira da Lixa, onde resido. Fui e vim de comboio, Caíde–Lisboa e Lisboa–Caíde. Quando me deitei, eram já 2 horas da madrugada do dia 6. Mas valeu a pena.

Ia a contar ter no debate, a defender o “não”, um colega meu, padre de Lisboa. Mas, segundo os promotores, quando ele soube que eu também tinha sido convidado e aceitara participar do lado do “sim” recusou-se a estar presente. O caso tem algo de insólito, mas é mais uma confirmação do que eu já sei há vários anos: que para a generalidade do clero católico eu sou um presbítero a evitar. Como os leprosos do tempo e do país de Jesus. Aos seus olhos, não passo de um “impuro” que os “puros” ou “não-impuros” devem cuidadosamente evitar. Nem sequer para me contraditarem, aceitam sentar-se comigo. A estratégia da instituição eclesiástica católica é essa. Evitar-me. Ignorar-me. Não me reconhecer, nem sequer para me denunciar ou desacreditar. É mais do que desprezo. É negação pura e simples. Recusam-se a admitir que eu existo. Detestam-me até esse ponto, o que prova que para além de ódio teológico há também ódio eclesiástico! Não são todos assim, felizmente. Eu sei por experiência directa. Mas a generalidade dos clérigos é assim. As poucas excepções só confirmam esta regra. Os que se têm na conta de representar a instituição eclesiástica aceitam com mais facilidade debater com pessoas de outras confissões do que com irmãos da mesma Igreja, quando estes se assumem como dissidentes dentro dela. Deveriam alegrar-se e acolher o desafio da dissidência na Igreja, mas não. Acham, erradamente, que dissentir na Igreja é dissentir da Igreja. E, na prática, excomungam com quem mais deveriam comungar. Ou esquecemos que as cristãs, os cristãos somos discípulos do dissente dos dissidentes, Jesus, o de Nazaré?

Entre os muitos jovens presentes, no espaçoso anfiteatro, deu para perceber que havia uns três diferentes, todos juntos, com o ar de candidatos ao presbiterado na Igreja, porventura, integrados numa congregação religiosa masculina. O modo de vestir, idêntico, e toda a postura dos seus corpos era inconfundível. Pois bem, quando, numa primeira ronda, a palavra me foi dada, logo a seguir a dois outros intervenientes, um do “não” e outro do “sim”, logo aqueles três jovens se ergueram das suas cadeiras e abandonaram a sala, com todo o ar de quem o fazia para não ter de me escutar. Não sei se frequentam aquela Faculdade, ou se vieram propositadamente da Universidade Católica para assistir àquela sessão. Ainda os olhei com afeição, como quem lhes dizia “Fiquem! Não se vão já embora!”, mas não resultou. Foram-se, de semblante fechado, a fazer¬ me lembrar aquele homem rico dos Evangelhos Sinópticos, a quem Jesus convidou a vender todos os seus bens e a dᬠlos aos pobres, para depois o seguir e à sua Causa do Reino/Reinado de Deus, mas sem resultado. E fiquei preocupado por eles. Porque se as suas fronteiras se limitam às eclesiásticas, em lugar de coincidirem com as do Reino/Reinado de Deus, onde padres dissidentes na Igreja como eu também têm lugar, temo pelo seu futuro. Como poderão vir a ser arautos do Evangelho de Deus, revelado na prática libertadora e dissidente de Jesus?

O debate causou-me bastante sofrimento. O discurso dos defensores do “não” parece passado a papel químico. Apresentam-se como os “puros”, os “defensores da vida”, os únicos que salvaguardam os princípios da “moral”. No caso concreto deste debate, com uma agravante: Como os que se revelaram mais “falantes” são docentes na Faculdade de Direito de Lisboa, onde decorreu o debate, os seus discursos facilmente resvalavam para o que eu mais temo em pessoas especializadas em leis e não em relação humana, em afecto, em misericórdia. Os seus discursos fizeram-me lembrar os dos fariseus do tempo e país de Jesus. As suas posturas, em relação às mulheres que na sua consciência decidem abortar, foram típicas, neste debate, de quem estava ali com as mãos cheias de pedras para lhes atirar. Nenhuma sensibilidade, nenhuma ternura, nenhuma compreensão, puro dogmatismo, puro moralismo, puro legalismo. Quase chorei de dor, perante tamanha crueldade. E pude entender melhor toda a cólera de Jesus perante os fariseus e os seus sucessivos “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas”. E não resisti a deixar aos jovens estudantes de direito lá presentes o alerta de Jesus, de que a lei é para o ser humano, não o ser humano para a lei. Ou eles assumem, vida profissional fora, que a lei maior é o ser humano de carne e osso e as suas circunstâncias concretas, ou poderão vir a ser eficientes carrascos ao serviço do Poder, da Ordem, da Lei, do Dinheiro.

Deu para perceber, logo de entrada, que a minha presença, como padre católico, do lado do “sim” incomodou vivamente os do lado do “não”. Nem que eu não tivesse falado, só a minha presença no debate os perturbou. E terá contribuído para as intervenções dos defensores do “não” serem ainda mais contundentes, a roçar pelo cinismo. Foi por isso que sofri. Porque não há nada que mais me faça sofrer do que o cinismo, a crueldade, o desprezo, a insensibilidade perante as vítimas. A determinada altura, cheguei a dizer, perante o que me era dado ouvir dos do lado do “não” que para eles as mulheres que em consciência decidem abortar não existem como pessoas, sujeitos de direitos e de deveres, são apenas coisas, barrigas de aluguer, objectos que os machos irresponsavelmente engravidam e, depois, ainda lhes exigem que levem a gravidez deles ao fim, sob pena de irem para a cadeia, se se recusarem a fazer-lhes a vontade, expressa em leis que eles escreveram e aprovaram, e em julgamentos a que eles presidem e onde dão as sentenças! Tudo fizeram, com visível diplomacia, para que eu me amedrontasse e me atrapalhasse. Em vão. Felizmente, em ambientes deste género, sempre me apresento e estou como um menino e, quanto mais me tentam humilhar e desacreditar, mais humanamente atrevido eu me torno. Armado apenas com a couraça da verdade, da humanidade, do bom senso, da ternura. Não é também por aqui que vai Jesus, o dos Evangelhos? E não sou eu um discípulo de Jesus? No final, houve jovens que se me dirigiram com muito afecto e gratidão. Haviam-se revisto nas minhas palavras e na minha postura. Nunca mais esquecerão este debate. Quem sabe se ele não vai marcar positivamente as suas vidas profissionais amanhã?

Na impossibilidade de reproduzir tudo o que disse no debate, partilho aqui a comunicação inicial que escrevi durante a viagem no comboio, rumo à Faculdade de Direito de Lisboa. Eis.

Tal como todos os bispos católicos portugueses, também eu, presbítero da Igreja do Porto, sou contra o aborto. Acho que todas, todos os que estamos aqui neste debate também somos. É uma posição que todo o ser humano em seu juízo subscreve. Não é preciso ser crente católico ou ateu. Basta ser mulher, homem.

Mas os bispos católicos em bloco – pelo menos, é esta a imagem que fazem passar para a comunicação social, quando se reúnem em Fátima – são contra a lei de despenalização do aborto (IVG); e eu sou a favor da lei. É aqui que divergimos. Muito legitimamente, aliás. É a lei que nos coloca em campos opostos. É claro que no campo dos princípios, eu poderia estar com os bispos católicos. Mas não é isso que está em jogo no Referendo do dia 11 de Fevereiro de 2007. O que está em jogo é se uma mulher, a seu pedido, pode interromper uma gravidez que, no entender da sua consciência, não deve ir em frente; se, em caso da mesma mulher avançar, pode recorrer aos hospitais públicos para abortar em condições de segurança e sem riscos maiores para a sua saúde, e assim ficar em condições de poder protagonizar novas gravidezes desejadas e achadas oportunas por ela e seu companheiro; e se, depois de tudo isto, essa mesma mulher não tem de ser presa, levada a tribunal e condenada a vários anos de cadeia.

A lei que vai a referendo pretende abrir esta possibilidade, sobretudo, às mulheres pobres e mais oprimidas, de quotidianos muito difíceis, porque as outras mulheres, de nível social e cultural superior, não precisam que se lhes abra esta possibilidade. Quando decidirem abortar, mesmo que votem “não” no Referendo, sabem muito bem onde há clínicas privadas e vão por elas, como quem dá um passeio à nossa vizinha Espanha.

A lei que vai a referendo pretende abrir esta possibilidade às mulheres. Não impõe a nenhuma mulher grávida o aborto! Pretende apenas dar às mulheres grávidas que em consciência decidiram abortar, esta possibilidade de escolha e de prática. Para que as mulheres que decidiram abortar não fiquem condenadas a ter de o fazer na clandestinidade, às mãos duma habilidosa abortadeira, em condições de vergonha e de desumanidade; ou, em alternativa, não tenham de recorrer a clínicas privadas interessadas exclusivamente nos lucros, geralmente chorudos, que arrancam às mulheres que, em aflição, as procuram. À semelhança do que também hoje fazem certas Igrejas recém-fundadas que invadiram o nosso país e que mais não são do que máquinas de fazer dinheiro à custa da dor humana dos mais desvalidos e desamparados da sociedade.

Por mim, não quero que uma mulher que em consciência decidiu abortar tenha, como única saída, o aborto clandestino, feito em condições traumáticas que podem tornar infecunda para o resto da vida aquela que o faz, tantas vezes, ainda jovem, ou mesmo adolescente, e que, por razões as mais diversas, engravidou contra a sua vontade. Nem que a razão mais forte tenha sido a irresponsabilidade ou a leviandade ocasionais. Numa sociedade humana, não apenas animal, quero que a mulher embaraçada com uma gravidez não programada e não projectada tenha outra porta aonde bater e que essa porta sejam os estabelecimentos de saúde pública. A lei que vai a referendo é isso que proporciona às mulheres grávidas que em consciência decidam abortar, no período máximo das primeiras dez semanas. Por isso é bem-vinda. Já deveria ter sido aprovada há muitos anos.

Eu sei que há muitas outras questões em jogo, mas também sei que há muita hipocrisia que se esconde por trás dessas outras muitas questões. Não me perco nessa floresta de questões. Prefiro a simplicidade da verdade, o sim¬ sim/não-não que recomenda o Evangelho. Prefiro ir directo ao assunto. Acho que é mais pastoral e mais evangélico.

Os bispos católicos portugueses, infelizmente, não vêem assim. E escondem-se por trás do que eufemisticamente chamam “defesa da vida”. Mas quem defende mais a vida, no caso concreto duma mulher que decidiu na sua consciência abortar? O que a atira para o aborto clandestino e para a prisão, ou o que lhe abre a porta do hospital público, em ambiente de humanidade, de afecto, de diálogo e de menos traumas? Nesta última via, a mulher não fica em melhores condições de saúde para poder programar uma nova gravidez desejada e levá-la ao fim? Aliás, conceber entre seres humanos, não há-de ser diferente, não tem de ser diferente de conceber entre animais? Ou um acto de tamanha importância, como é gerar uma filha, um filho, não exige mais, muito mais do que o simplismo irresponsável de um “aconteceu e agora há que aguentar?”

É hipocrisia ignorar esta realidade e, em alternativa, defender que se deve investir tudo na prevenção, em lugar de ir a correr aprovar a lei de despenalização do aborto. O que eu defendo é: aposte-se tudo na prevenção, mas, enquanto continuar a haver mulheres que abortem às mãos de habilidosas abortadeiras, aprove-se a lei de despenalização e abram-se os hospitais públicos a estas mulheres de carne e osso e de vidas difíceis, como alternativa às abortadeiras e à clandestinidade. Não coloquemos as coisas em disjuntiva, ou¬ ou, mas em copulativa, e¬ e; não, prevenção ou lei de despenalização, mas, prevenção e lei de despenalização, pelo menos enquanto esta for necessária como mal menor. Acho que esta minha posição prática/pastoral está muito mais conforme ao Evangelho de Deus que Jesus, o de Nazaré, nos deu a conhecer mediante a sua prática cheia de misericórdia contra a insensibilidade/crueldade dos fariseus que, em nome da pureza legal, mantinham as pessoas, sobretudo, as mulheres na opressão e na menoridade e na impossibilidade de escolherem em consciência.

Antes de concluir, tenho que dizer aqui, no contexto deste debate sobre a lei de despenalização do aborto, e dizê¬ lo sem que a voz me trema, que cruel é o Direito Canónico da Igreja católica que condena com pena de excomunhão as mulheres que abortam; e já não condenaria com essa mesma pena as mulheres que, só para não serem excomungadas, decidissem levar a gravidez ao fim e depois matassem o bebé recém¬ nascido. Espantam-se? Mas é assim a crueldade do Código de Direito Canónico! Mas eu pergunto mais: E porque é que só o aborto tem pena de excomunhão e não todo e qualquer homicídio voluntário, as guerras e os ditadores? Não é porque só as mulheres podem escolher e decidir abortar, não os homens?

Digo mais: Insensíveis são os bispos católicos, para não dizer cruéis, que não querem que as mulheres sejam sujeito de direitos e de deveres, também em relação ao seu corpo e à sua sexualidade e para decidirem em consciência se hão-de abortar ou não. Querem-nas eternamente menores, súbditas, tuteladas, primeiro aos pais, depois aos maridos e, durante toda a vida, aos párocos, aos bispos e ao papa!

Insensíveis são os bispos católicos, e muito pouco humanos, porque não são capazes de se alegrar com a emergência e a crescente afirmação da sociedade civil, feita de mulheres e homens em radical igualdade, que hoje já se revela capaz de legislar em matérias até há pouco reservadas a eles e ao papa de Roma. Por mim, alegro¬ me com estes avanços e acho que eles dão glória a Deus, o de Jesus, que nos quer cada vez mais adultos e responsáveis, capazes de decidir em consciência.

Vão, pois, por mim. E no dia 11 de Fevereiro de 2007, reconheçam às mulheres o direito a escolherem em consciência se hão-de levar a gravidez ao fim ou se hão-de interrompê-la no ambiente humano e afectivo de um hospital público.

Finalmente, à Igreja católica que também sou, nomeadamente, à sua hierarquia, peço que não se intrometa na consciência das mulheres, nem dos homens. Pelo contrário, ajude sem sectarismos e sem moralismos farisaicos a formar consciências humanas responsáveis. E o resto virá por acréscimo. Aliás, o que não for assim é pecado!